O sol e a lua - Sérgio Carvalho

sábado, 31 de dezembro de 2011





Eu vivo preso no meu sentimento
Num desvario que me leva ao nada
Dentro de mim, ouvindo o meu lamento
Nas lentas noites pela madrugada


Sou a prisão que cerca o mar medonho
Que brilha o sol, entre as sendas esguias
Quando desperto no arrebol tristonho
Badala os sinos no final dos dias


AI! Se o meu verso fosse o meu alento
Desse-me a paz, que a brisa trás do vento
Me transportasse para um sonho infindo


Eu deixaria de gritar ao léu
Minh'alma iria flutuar no céu
E a morte iria me levar sorrindo








Saudade não se explica apenas sente
E o coração navega enclausurado
Na lágrima que corre tão fluente
Voraz, nos remetendo ao passado

Nos cântaros de luz vagava errante
Saudando os arrebóis no alvorecer
E hoje tão sozinho e tão distante
Sucumbe quando chega o entardecer

Saudade do cantar da passarada
Das noites de luar, na madrugada
Dum tempo de blandícia que eu passei

Fulgindo a vida passa e vem o fim
Nas plácidas manhãs eu sigo assim
Sabendo que na vida eu nada sei






Dedico este soneto a minha grande amiga e poetisa Reinadi Sampaio

sábado, 26 de novembro de 2011

OS DESÍGNIOS DE DEUS




                           
E quando vejo na tristura plena
Se debruçares no recosto eterno
No mausoléu trescala tão serena
A bruma triste para saudar o inverno

Plangente chora a inefável ida
Abraça-se à imagem em total candura
Jamais entende porque vai-se à vida
Ajoelhada sobre a sepultura

E frente ao rosto, do senhor, em pranto
Deitou-lhe salmos e teceu-lhe um canto
Pediu, quem sabe, uma ressurreição

Mas Deus te olhou igual um pai de LUZ
Por ti morreu pregado numa cruz
E balbucias tanta prece em vão....



     

UM GRANDE AMOR

                 





E quando nossos olhos se cruzaram
Foi como incendiar os nossos peitos
Os corpos de tão leves, flutuaram
E nunca mais se viram n’outros leitos

O amor é um sentimento indescrito
Sem pegos, sem amarras, sem destino
O calmo coração se torna aflito
Que n’alma se reveste em desatino

Amar é o corpo inteiro em descompasso
Tremer, em ânsia, só no teu abraço
Cobrir de beijos, quem nos causa dor

Dois corpos, juntos, vão ao paraíso
E morrem, neste amor, se for preciso
E dizem que o poeta é um fingidor!!!!!!

domingo, 30 de outubro de 2011

AS CATEDRAIS......



As catedrais de fé, d’antigas eras
De paz, de círios e arte angelicais
Das preces de louvor à luz de velas
Dum tempo que se Foi não volta mais

Ao som daquele sino, feito pranto
Os negros véus, de exéquias em latim
Coturnos, os regaços... Tristes cantos
Desfez-se tudo... Tudo teve um fim

E hoje me mofino em agonia
Feito um descrente, eu sigo, inconformado
Vivendo no presente, e no passado

Numa quimera morta de utopia
Num mundo em perdição, Qu’eu choro só
Tudo morreu...Passou....tornou-se pó

AMOR DO JAZIGO

 


                 JAZIGO DO AMOR(soneto)
  (versos decassílabos, ritmo heróico)

Oh! Noiva amada vem velar meu pranto
Nos pomos alvos, de mortal ternura
Que as flores mortas, que deitei-lhe em canto
Cobrem c’os lírios nossa sepultura

Sobre teu leito, que a bruma trescala
Vamos fulgir no mausoléu o amor
Dois corpos frios se amarão na vala
Por entre as cruzes num fanal de dor

Mil vermes loucos nossos corpos comem
Estulto amor só de pudores nossos
S’enlaçam pútreos num ranger de ossos

E em altivos fulvos que nos prados somem 
Riscou o espaço num enlace eterno
E encheu de amor, o breu do próprio inferno

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

FLORES FÚNEBRES


                                                                   

No leito, convulsiva, inda me fita,
Pranteio teus instantes de aflição
Em rútilos espasmos, tua mão
Acena-me, e partindo, inda me grita


Me junto aos teus suplícios tão sofridos
Fluindo entre febre e agonia
Em plácidos momentos de utopia
Carpindo sobre os sonhos destruídos

No teu derradeiro ai! Partimos juntos
No mesmo chão os corpos se apodrecem
De tanto amor, as plantas que ali crescem

Carregam a paixão destes defuntos
Em pleno inverno a tumba se vestiu
De orquídeas, deste amor que não floriu

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

ALÉM DA VIDA








Quisera eu ter o mar sem ter medida
Lançar ao leu, o amor mais verdadeiro
Ao breu da noite, na alma tão ferida
Transpor a escuridão do nevoeiro


E como um destemido em frente à vida
Ir de encontro à morte, em um grito atroz
Purgar o teu sofrer, na despedida
Num beijo sufocando a tua voz


Igual almas do alem transpor o céu
Em lânguido silêncio enclausurado
Chorar sobre teu corpo ali deitado


Tocar teu lindo rosto, sob o véu
Cortar meu coração num golpe forte
Viver o nosso amor além da morte.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

TRISTEZA






Entristeço-me ao ver o pobre andante
O carente, implorando pelo pão
O traído chorando pela amante
Sobre a flor, desfolhada pelo chão


Por quem chora, um amor na despedida
Num fracasso de luta pela gloria
Quando a morte se torna tão sofrida
No final d'um amor; de uma historia


No sonho destruído, inacabado
Pela morte, de um jovem sonhador
Pelas juras perdidas, neste amor


E por fim, choro o corpo mutilado
Em que a terra, aos farrapos, cobre nua
Pela alma, tão perdida, que flutua

DOCE AMADA





 E teu olhar se foi naquele dia
Como ave que voou num arrebol
Um berro de pavor na noite fria
Num mármore desnudo em meu lençol


Naquela manhã, vasta, langorosa
Num fúnebre silêncio, tu me olhava
Igual um botão que morre..... Uma rosa....
Só resto e nada mais, qu’eu tanto amava


E como um desvairado, um só!  Demente!
Singrei o mar, sem rumo, sem destino
Pra me afastar, do som, daquele sino


Que te levou sozinha, tão somente
Ficou daquele olhar, funesto, brando
A dor de mil defuntos, me fitando

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O PERFUME DA FLOR

          O PERFUME DA FLOR
       (DECASSÍLABOS, RITMO HERÓICO)





Eu choro a desventura, a triste dor
Os ideais perdidos pela vida
Em cada tombo, enfim em cada amor
Em cada uma ilusão, triste e contida


Em versos salpicados pelo vento
Em noites tão sofridas de agonia
Nas mortes, de amor pelo relento
Nos meus versos marcados de utopia


E como a flor que o chão enfeita, assim
Em pétalas morridas ao luar
Que este vento as sepulta pelo mar


E espalha o teu perfume, neste fim
Que a morte seja assim, feito uma flor
Tão perfumada, em meio a tanta dor.

sábado, 17 de setembro de 2011

MEU LAMENTO ( VERSOS DECASSÍLABOS, RITMO HEROICO)






Selar o meu abraço e até sorrir
Transpor o lado fúnebre do além
Enfim, meu corpo pútrido, florir
Ao toque da alvorada que se vem


Algoz na dor, a boca, então, eu calo
E o peito prá explodir, segura o fim
De desencantos que passei, não falo
Na minha boca, branca, igual marfim


E a lagrima tão presa, tão dorida
Que rasga a face, nua, tal ferida
É a mesma por quem grito, tão sozinha


No acalento, a dor fugaz, insana
N'alma, que protegida, fez campana
No voo tão solitário de andorinha.

O VERDADEIRO AMOR





Na paz de um anjo pulcro, ela dormia
No rosto a luz da lua refletida
E quando respirava já se via
Os seios pela blusa mal vestida

Os seus negros cabelos flutuavam
No açoite duma brisa de verão
Sobre os ombros e braços deslizavam
Feito um beijo, corriam pela mão

Em êxtase, seu corpo arrepiado
De leve sua boca entreabria
Sussurrando meu nome em agonia

Depois num grito louco, desvairado
Perdeu-se pela noite enlouquecida
Buscava-me nos túmulos, perdida

domingo, 11 de setembro de 2011

Não chore amada




Não derrame um pranto


Não chores nunca, não derrame um pranto
Pois este amor foi como um arrebol
O sabiá, que chore um triste canto
Que as flores tombem ao raiar do sol


Que suma a lua, ao cair da noite
E o lírio branco se desfolhe ao chão
Que a tempestade num cruel açoite
Espalhe sangue, numa dor em vão

Mas, eu espero ver o teu sorriso
Que seja eterno em meio a tantas dores
Tão puro e lindo como estas flores

Que me cobriram, pelo paraíso,
Mil anjos,juntos, vão saudar-te em canto
Levou-me a morte, mas ficou o encanto
 







Sérgio Márcio Carvalho

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

INVERNAL

INVERNAL

Açoita os prados a bruma invernal,
Em cirros, alvos, n’últimos floreios,
Que o lírio branco a gemer, nos seios,
Sob delido e vil eflúvio boreal.

Entre os plátanos secos, e despidos
Na dor maior da s tristes parasitas
Sobre a geada, se debatem, aflitas,
Que sinto ouvir seus últimos gemidos.


E cobre a névoa, à terra  gelada
A natureza aos prantos, inda grita
Na tristura, ecoando tão aflita

Brisa de gelo rompe a madrugada
Juntos se vão meus sonhos de quimera
silentes buscam pela primavera.


Sérgio Márcio Carvalho
07/05/11

domingo, 14 de agosto de 2011

Fúnebre amada




No leito, convulsiva, inda me fita,
Pranteio teus instantes de aflição
Em rútilos espasmos, tua mão
Acena-me, e partindo, inda me grita

Me junto aos teus suplícios tão sofridos
Fluindo entre febre e agonia
Em plácidos momentos de utopia
Carpindo sobre os sonhos destruídos

No teu derradeiro ai! Partimos juntos
No mesmo chão os corpos se apodrecem
De tanto amor, as plantas que ali crescem

Carregam a paixão destes defuntos
Em pleno inverno a tumba se vestiu
De orquídeas, deste amor que não floriu

Sérgio Márcio Carvalho

sábado, 13 de agosto de 2011

Quem sou?






Não sei quem sou, e nem pra onde vou
Sou resto e nada, sobra de vintém
Sou triste sombra do que me restou
Que perambula, pobre, sem ninguém

Se nada tenho, só meu sentimento
Que de tão pobre, já não tem valor
Tal folha morta, que carrega o vento
Pelos sombrios vales desta dor

Neste sorriso, que fluiu, passou
Meus tristes passos a te lamentar
No fim da vida, um sonho que ficou

E tropeçando nos meus próprios passos
Em vez do canto, que só sei chorar
Eu adormeço sobre os meus fracassos


Sérgio Márcio Carvalho