O sol e a lua - Sérgio Carvalho

sábado, 17 de agosto de 2013




MINH’ALMA POÉTICA

Tão novo e sinto a vida se esvaindo
Como uma nuvem branca, um nevoeiro
Um sonho que afundou em um veleiro
Que vaga pelo céu quase fluindo

Morrer é feito a luz do amor primeiro
Que fica, embora a vida vá sumindo
A dor e a eternidade, enfim, se unindo
Na  dor de meu sorriso derradeiro

São restos de meus dias, sem fulgor...
Mas, para que, se o mundo é só um jazigo
Um vasto leito fúnebre, um abrigo

Pra nossos restos pútridos de dor
Num breve tempo vai-se esta magia
E o que restar de mim....será poesia.





  SOU ASSIM...

Sou como aquela nuvem solitária
Feito a lua do inverno mais gelado
A prece mais dorida Imaginaria
O lírio lá no campo abandonado

Pelos atros da noite, em dor talhado,
De um sussurro cortando a pradaria,
Vai meu lúgubre vulto amargurado
Num suplício de dor e de agonia

Como a bruma que segue sem destino
Eu ando pela vida em rumo incerto
Perdido pelas trilhas de um deserto

Tão triste quanto o som daquele sino
Que plange em réquiens de despedida
Quando a terra nos guarda ao fim da vida




   Sonho perdido    

Eu choro a desventura, a triste dor
Os ideais perdidos pela vida
Em cada tombo, enfim, em cada amor
Sem ter onde amparar a alma perdida

Em versos salpicados de pavor,
Das noites de desgraça tão sofrida,
Nas lágrimas de dor na despedida
Restando apenas vidas sem sabor

E como a flor que o chão enfeita, assim
Em pétalas morridas ao luar
Que varre a bruma e as joga em alto mar

E espalha teu perfume neste fim
Que a morte seja assim, feito uma flor
Tão perfumada em meio a tanta dor.






  Meu coração


Este meu coração, pobre coitado
De descontente bate, depois para
E faz da tarde, o dia, em noite clara
Feito um louco arrebol desatinado

Nos golpes deste amor desesperado
Meu coração perdido, a noite vara,
Palpita em descompasso e nunca sara
Vivendo neste peito desgraçado

Perante teu desprezo e o desencanto
Singrei as negras águas do meu pranto
Num rio de lamúria e de pavor

E a dor que em mim tornou-se tão feroz
Fez do meu grito um brado tão algoz
Que terra estremeceu de tanta dor



 ALMA PERDIDA


Meu canto é uma ilusão triste morrida
Na noite escura grita pelos vales
Feito bramido desta dor trazida
No desvario vai cobrir meus males

Qual bufo negro que a conduz perdida
Vozes do além que cruzam pelos ares
Na noite busca uma ilusão fluída
Adormecendo, enfim, nos negros vales

No plácido rancor por mim descrito
Plangente me ecoou p’la alma aflita
E a solidão contida neste grito 

Foi Betesga que vi vagando ao léu
Como fantasma, á noite, chora e grita
Tentando s’encontrar na luz do céu.





NOITES DE CHUVA

Não gosto, quando à noite, a chuva forte
Desmancha-se em airosa ventania
Uivando pelas frestas feito morte
Varando a madrugada em agonia

No teu murmúrio infindo, Vai meu norte
Numa canção de dor que principia,
Relâmpagos cortando a noite fria
Deixando meu destino à própria sorte

Treme-se a terra, em fortes trovoadas
No meu tormento, em tristes gargalhadas,
Que o belo, em mim, se veste em tais flagelos

Talvez, quando o meu corpo se fluir
Eu me alegre na chuva que cair
E os raios e trovões me sejam belos.























 JARDINS SOMBRIOS

(Decassílabos, ritmo provençal/gaita galega.)

Quando no outono das brumas sombrias
Nas tardes mortas, nos gráceis jazigos
Eu recostado-me, aos lustros abrigos
Molhar teu leito de lágrimas frias

Pelas soturnas ruelas esguias
Na soledade dos negros testigos
Sobre os teus restos, relvedos pascigos,
Hei de buscar-te nas noites vazias

Neste semoto moimento das dores
Onde adormecem os nossos amores
Desta fulgente e flébil mocidade

Mas tudo passa se esvai na neblina
No desespero que a vida declina
Nestes soturnos jardins da saudade